terça-feira, 26 de julho de 2011

Os desenhos da minha avó

A minha avó nunca viveu com muito dinheiro. Com muito pouco, na verdade. Cedo se tornou viúva. Cedo se tornou a mãe e pai de três filhos. Cedo se viu a braços com um filho alcoólico. Cedo envelheceu. E muito cedo morreu. Eu tinha só cinco anos. Mas são quase nenhuns os minutos daquele dia que não me lembre. Não por ser triste. Porque a minha avó só me dá motivos para ser alegre. Dizerem-me que sou parecida com ela, é o maior elogio que me podem fazer. Ainda que, intimamente, saiba que não é bem assim. A minha avó era pequena e magra. Muito magra, segundo me recordo. Dava a sensação de ser frágil. E era. Mas era forte também. Muito. Jogava com a fragilidade para fazer a família viver em torno dela. Sendo tão pequena e frágil como me recordo, é estranho ter imposto o matriarcado em nossa casa.

A minha avó nunca viveu com muito dinheiro. Não sei se lhe dava muita importância. Mas a recordação mais presente que tenho dela, neste dia, que é o dela (como todos os dias da minha vida), é a da minha avó a sacudir a algibeira para cima da cama e, com as moedas que caia, fazer-me desenhos. Casas. Só me lembro das casas.
Amo-te!

quarta-feira, 16 de março de 2011

PARABÉNS, PRINCIPEZINHO!

Hoje é dia de festa. Não é o rei que faz anos mas sim o principezinho!!!
O reino vestiu-se de cor e de alegria e as gargalhadas das crianças dizem que a festa vai animada.
Nesta festa de crianças, permitiram a entrada dos adultos. Pelo menos de alguns. Daqueles que estão sempre e daqueles que só chegam nos dias de festa. Mas as crianças, essas estão lá sempre. Em dias de sol ou de chuva, em dias de felicidade ou mais tristeza, em dias que estamos bem dispostos e outros nem tanto e, sobretudo, naqueles dias em que apenas queremos que nos ouçam.
Mas voltando à festa... tudo estava perfeito. A decoração a verde e branco, com muito leões... (ouvi dizer que era um príncipe sportinguista, xiuuuu!), deliciosas guloseimas, música da moda, teatrinhos, facepaintings e outras modernices. E num canto, quer dizer, num quarteirão do reino uma pilha de presentes dos adultos. Cada um maior que o outro. Com papéis de embrulho garridos e laços a condizer. O principezinho ficou todo feliz e desembrulhou num ápice os seus presentes. Mas depois de os ver voltou para junto dos seus amigos crianças. Eles tinham um presente especial que não se encontra nas prateleiras das lojas, que não se compra com euros e outras moedas, um presente que se troca, como os cromos... um presente que chega em forma de abraços, gargalhadas, olhares e sorrisos cúmplices, um presente que se chama amizade, dedicação, ternura. Coisas boas que só as crianças sabem oferecer de forma incondicional... E no final, o principezinho ofereceu aos seus amigos a melhor lembrança de aniversário... um sorriso do tamanho do mundo. Porque afinal, como já dizia outro principezinho " o essencial é invisível aos olhos"!


P.S. Para o Diogo R., o nosso principezinho

CIN-DE-RE-LA

Soletra a palavra mágica e os seus doces olhos castanho-chocolate cintilam como se a magia começasse aqui e agora. Soltam-se de imediato mil pós de perlimpimpim e entra no mundo dos sonhos. Imagina-se a princesa do seu castelo e não se importa que o príncipe já tenha sido um sapo. Faz planos para o futuro sem esquecer o happy end!!!
E os olhos sorriem. E imagino-lhe, no interior, um coração feliz e apaixonado. E deixo-a sonhar. Deixo-a ser a menina Cin-de-re-la. Porque também já o fui ( e talvez ainda o seja). Porque acredito que é preciso sonhar a felicidade para a poder viver em pleno. E pode ser aqui e agora...

P.S. para a minha Cin-de-re-la, a L.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Meu amor

Meu amor. Meu tudo. Minha vida. Meu filho. Meu irmão. Meu amigo. Meu tudo. Minha vida. Meu norte. Meu sul. Meu porto de abrigo. Meu tudo. Minha vida. Meu regaço. Meu berço. Meu sonho. Meu pesadelo. Meu tudo. Minha vida... Meu amor.

Marlene Silva

quinta-feira, 3 de março de 2011

Tchaikovsky - A história de um cão abandonado

Nota: O Tchaikovsky simboliza todos os animais que vejo perdidos, desorientados, trôpegos pela rua, com o olhar perdido. Esse é o olhar que mais me encolhe o coração.

Tchaikovsky era um cão especial... mas naquele dia surpreendentemente quente de fevereiro, todo o seu mundo se desmoronou. Mas comecemos pelo início da história deste rafeiro arraçado de pastor alemão, de pêlo comprido, muito amarelo.
Tchaikovsky nunca veio a saber quem era o seu pai. A mãe, uma bela cadela de raça, de quem ele só herdou a pelagem, confessou-lhe um dia, muito envergonhada, que não tinha maneira distinguir qual daqueles rafeiros que não largavam a porta de casa tinha gerado a sua ninhada.
O dia em que deu à luz oito cachorrinhos, quatro fêmeas e quatro machos, não foi feliz para a amedrontada Amarelina. A mãe de Tchaikovsky notava aspereza nos donos desde que souberam que estava à espera de cachorrinhos. António e Gabriela formavam um casal muito rico, que vivia num casarão e que tratava a sua cadela pastor alemão como uma princesa. Levavam-na a tomar banho e a ser escovada todas as semanas num salão de beleza só para cães e faziam-na treinar saltos num ginásio frequentado pelos exemplares de melhor pedigree.

... continua.

Marlene Silva

Inspirações ao pôr-do-sol...

Entra pela janela um raio de sol vibrante, luminoso, quente ... inspirador. Aquele que devia ser a réstea de um raio de sol de final de dia, o primeiro sinal do pôr-do-sol, chega até mim como um raio de nascer do dia, como uma inspiração doirada para o que vem a seguir...
Quando um raio de sol se põe, outros começam a brilhar (nascer)...
O dia começa aqui e agora...




Paula Machado

O segredo de escrever

António Lobo Antunes, na Visão de hoje: «O segredo de escrever é ser estrábico, ter um olho na bola e outro nos jogadores. Em miúdo espantava-me que os olhos dos lagartos fossem independentes um do outro, mas quando comecei nesta vida descobri-me lagarto numa pedra, à coca, muito quietinho, rodando as pupilas para sítios diferentes, guloso da mosca de uma frase».