terça-feira, 26 de julho de 2011

Os desenhos da minha avó

A minha avó nunca viveu com muito dinheiro. Com muito pouco, na verdade. Cedo se tornou viúva. Cedo se tornou a mãe e pai de três filhos. Cedo se viu a braços com um filho alcoólico. Cedo envelheceu. E muito cedo morreu. Eu tinha só cinco anos. Mas são quase nenhuns os minutos daquele dia que não me lembre. Não por ser triste. Porque a minha avó só me dá motivos para ser alegre. Dizerem-me que sou parecida com ela, é o maior elogio que me podem fazer. Ainda que, intimamente, saiba que não é bem assim. A minha avó era pequena e magra. Muito magra, segundo me recordo. Dava a sensação de ser frágil. E era. Mas era forte também. Muito. Jogava com a fragilidade para fazer a família viver em torno dela. Sendo tão pequena e frágil como me recordo, é estranho ter imposto o matriarcado em nossa casa.

A minha avó nunca viveu com muito dinheiro. Não sei se lhe dava muita importância. Mas a recordação mais presente que tenho dela, neste dia, que é o dela (como todos os dias da minha vida), é a da minha avó a sacudir a algibeira para cima da cama e, com as moedas que caia, fazer-me desenhos. Casas. Só me lembro das casas.
Amo-te!