quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A bruxa que procurava o amor - Parte IV

- És boa! Salvaste-me! Sempre que precisares de mim, chama pelo lobo da matilha perdida e eu irei ter contigo.

E partiu na profundidade do bosque.

A bruxa continuou o seu caminho, mas as floresta era cada vez mais densa e sentia as feridas dos ramos das árvores a arderem no corpo, o vestido cada vez mais esburacado e foi perdendo a coragem. Acabou por cair, aturdida pelo desespero e deixou-se ficar ali, gelando sob o orvalho da noite.

Acordou com a lambidela quente de um cão no seu rosto frio. Ouviu vozes e um rosto amigável aproximou-se do seu:

- Jarbas, uma mulher está aqui deitada no chão. Deve ter passado aqui a noite pois está galada. Temos de a levar para o palácio imediatamente.

- Sim, alteza.

“Palácio? Alteza? Devo estar a sonhar”, pensou a bruxa. Sentiu-se a ser levada ao colo, ouviu os latidos do cão que os guiava, mas a sua memória só alcança a manhã do dia seguinte quando acordou numa bela cama de dossel. Dirigiu-se à janela e encantou-se com o que via. Estava com certeza num palácio de torres altas e rodeado de belos jardins.

- Que bom que já acordou menina! Suas altezas esperam-na para o pequeno-almoço.

A bruxa vestiu um belo vestido branco que a empregada deixou sobre a chaise-longue e desceu. O príncipe era mais belo do que se recordava, com os seu olhos doces de mel. Mas a mãe fazia-lhe lembrar a sua – verruga no queixo, cabelo acinzentado e uma expressão de maldade a toldar-lhe os olhos.

Quiseram saber o que a bruxa fazia deitada e ferida no meio do bosque, mas ela respondeu enigmaticamente: - Sigo o conselho de um velho amigo, procuro o amor.

O príncipe olhou-a encantado, mas a mãe apercebendo-se disso, respondeu:

- Imagino então que continuará a sua viagem. Temos uns dias atarefados pela frente cá no palácio. O meu filho escolherá a sua noiva num dos três bailes que daremos nas próximas noites. Vêm princesas de todo o mundo.

A bruxa ficou sem saber o que dizer: - Hum, sim, sim, seguirei a minha viagem ainda hoje.

- Não, porque não fica para o baile desta noite? – propôs ansioso o príncipe.

- Ficarei então e seguirei a minha viagem amanhã.

A bruxa tinha apenas essa noite para dar a poção ao príncipe, mas na sua cabeça a voz do velho sábio não parava de ressoar: - O amor tem de ser plantado!


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